top of page

O monopólio da inovação: Como a tecnologia redesenha o mundo

Foto do escritor: ConvidadosConvidados




É seguro dizer que a tecnologia é e será a tônica das próximas décadas. A inovação e seu potencial disruptivo parece transformar o mundo todos os dias. Em retrospecto, o Facebook foi lançado há menos de 20 anos no Brasil; o Instagram, assim como o WhatsApp, há 15 anos; Uber iniciou sua aplicação em nosso país há 11 anos; Tiktok, há 8 anos. A maioria de nós está vivo há muito mais tempo do que tais aplicações, mas elas já tomam conta de nossa realidade, a ponto de pensar, às vezes, que uma vida moderna sem elas nos parece impossível.


O avanço tecnológico tem sido um dos principais propulsores da economia global e motivo de disputas políticas. A polêmica envolvendo o uso de dados e a expulsão do Tiktok nos Estados Unidos, os boicotes à China com a proibição à comercialização de chips de alta tecnologia e restrições aos profissionais envolvidos com pesquisas das IAs, são amostras mais que suficientes das tensões envolvendo o tema.

Todavia, mais do que Estados, empresas parecem estar envolvidas nas mesmas disputas globais. Dois exemplos ilustram essa problemática: o monopólio da Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC) na fabricação de chips avançados e a concentração do desenvolvimento de Inteligência Artificial (IA) em grandes corporações.

A Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), sediada em Taiwan, domina a produção de semicondutores avançados, sendo responsável por aproximadamente 60% do mercado global de chips sob contrato e quase 90% da fabricação dos semicondutores mais modernos, abaixo de 3 nanômetros. Empresas como Apple, NVIDIA, AMD e até mesmo fabricantes de equipamentos militares dos Estados Unidos dependem diretamente dessa única fornecedora.

Nessa perspectiva, uma importante reflexão é a de que, mesmo diante do cenário em que a tecnologia corresponde ao principal interesse geopolítico, uma só empresa controla 90% do fornecimento do insumo necessário para a produção de novas tecnologias de ponta. Ainda, que não há menção à possível destituição deste aparente monopólio, vez que a tecnologia aplicada em seus chips é desenvolvida, também, por esta, visto o elevado custo necessário ao seu avanço contínuo.



Pode-se dizer que o mesmo caso se repete com as Inteligências Artificiais (IAs). Empresas como OpenAI, Google (DeepMind) e Microsoft controlam grande parte do desenvolvimento dos modelos mais avançados, garantindo acesso privilegiado a infraestrutura computacional, bases de dados exclusivas e investimentos bilionários[1].

Mais recentemente, nos últimos meses, a empresa chinesa DeepSeek, mesmo diante dos fortes embargos e restrições impostas pelos EUA, conseguiu lançar o modelo DeepSeek-R1, que surpreendeu ao baratear o custo de tais operações em quase 90% em comparação ao modelo implementado pelas demais empresas devido ao uso de menor capacidade de processamento. Cabe-nos ressaltar que, embora a necessidade de investimento tenha sido reduzida, falamos, ainda, da casa de milhões de dólares.

O domínio de poucas empresas às IAs acarreta no controle estratégico das informações, já que algoritmos de IA determinam o que é priorizado na internet, influenciando eleições, mercados e comportamento social. Ainda, a falta de transparência e a presença de viés algorítmico, pois poucas empresas detêm o poder sobre os modelos e seus critérios de funcionamento, dificultando auditorias externas e regulamentações adequadas.

Escândalos como o da Cambridge Analytica e o Facebook já demonstraram o potencial de influência dos algoritmos em nossas vidas; também, a força da correlação de interesses entre os Estados e essas empresas.



A escatológica percepção da rotina em que vivemos não parece ser fruto de mero acaso. Embora nascidos em outra realidade, em velocidades inimagináveis há 30 anos, vemos as barreiras entre o público e o privado, o social e o individual, o real e o virtual, a segurança e a liberdade estão sendo constantemente forçadas e postas à prova diante dessas novas bases. A tecnologia, dia-a-dia demonstra a fragilidade de nossa solidez e, em citação à Baumann, faz da única constante a mudança.



Artigo: Rafael Schroeder

Comments


  • Pinterest - Círculo Branco
  • Branca ícone do YouTube
  • Facebook - Círculo Branco
  • Branca Ícone Instagram
bottom of page