Felicidade em quatro patas: minha vida com Furacão e Geraldo
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Descobri, com o tempo e as vivências, que sou uma pessoa 100% mais feliz com cachorros. E essa constatação não veio de uma hora para outra ela foi construída ao longo de anos de convivência, de amor incondicional, de rotinas silenciosamente compartilhadas e de despedidas que deixaram marcas profundas.
Tudo começou quando eu tinha apenas cinco anos. Foi nessa idade que ganhei o lhasa apso mais perfeito do mundo: o Furacão. Com cinco anos, é claro que eu ainda não entendia a dinâmica dos cachorros. Não sabia muito bem sobre rotina, cuidados ou o que significava, de fato, ter um companheiro animal. Mas mesmo assim, criamos um laço quase que imediato. Furacão se tornou meu melhor amigo, meu parceiro, minha sombra - literalmente. Ele me seguia pela casa inteira e, para todos à nossa volta, eu era a Toti do Furacão, e ele era o Furacão da Toti. Éramos inseparáveis.

Vivemos assim por 17 anos. Praticamente toda minha vida teve o Furacão ao lado. Ele esteve comigo em todas as fases: o ensino fundamental, o ensino médio (quando vivemos nossa primeira separação, durante meu intercâmbio de seis meses, que para mim foi um vazio enorme) e quase toda a faculdade. Infelizmente, ele se foi em abril de 2023, pouco antes da minha formatura em Direito pela PUCPR. E, com ele, foi também uma parte de mim.
A dor foi profunda, talvez a mais profunda que já senti. Nunca tinha experimentado uma perda tão intensa. A ausência do Furacão não era apenas física: era como se o silêncio da casa tivesse mudado de tom, como se até o tempo passasse diferente.
Após sua partida, vivi um dos períodos mais desafiadores da minha vida. Justamente ali, naquele momento de luto silencioso e solitário, tive que reunir forças para concluir meu Trabalho de Conclusão de Curso, apresentar o TCC e, em seguida, enfrentar a fatídica prova da OAB. Foram dias longos, intensos e emocionalmente exaustivos, e tudo isso sem meu companheiro fiel ao lado, aquele que por tantos anos me acompanhou nas madrugadas de estudo e nas pausas de respiro entre um parágrafo e outro. Sentir sua ausência nessas conquistas doeu ainda mais.

Mas, como a vida insiste em nos mostrar que o amor pode renascer - mesmo quando achamos que ele acabou -, um mês depois, eu e minha irmã decidimos buscar um novo filhote. E assim, fomos ao pet shop e voltamos com um novo pequeno amor: o Geraldo, uma mini salsicha.
Geraldo foi o oposto do Furacão desde o primeiro dia. Onde Furacão era serenidade, Geraldo é pura bagunça. Um furacão (ironicamente) de energia, carência, presença constante e zero senso de espaço pessoal. Se eu me sento, ele pula no meu colo. Se estou deitada, ele quer estar deitado em cima de mim. Ele quer atenção o tempo todo, exige carinho como quem exige ar, e distribui afeto na mesma intensidade.
Ele tem um olhar doce, intenso, que parece conversar. Uma personalidade forte, marcante, mas impossível de resistir. Em poucos dias, conquistou a casa inteira, inclusive o espaço que ainda doía, aquele deixado pelo Furacão. Porque, apesar de tão diferentes, o que une os dois é essa capacidade de amar de forma inteira, sem reservas, sem julgamentos, sem exigir nada além da nossa presença.
E foi assim que eu cheguei a uma conclusão que carrego comigo: esse é o amor mais genuíno que existe. Nós temos nossas rotinas, amigos, compromissos, distrações. Eles só têm a nós. E mesmo assim, nos amam com uma entrega absoluta, sem desviar o foco, sem nos cobrar nada além de estarmos ali.
Por isso, se me permite um conselho pessoal, aqui vai: tenha um cachorro. Nenhum vai ser igual aos meus, porque, modéstia à parte, Furacão e Geraldo são os mais perfeitos do mundo. Mas, com certeza, o seu será o mais perfeito do seu mundo. Porque eles têm esse dom: o de transformar nossas vidas em algo mais leve, mais doce, mais amorosa. E, de alguma forma, mais inteira.
Artigo: Maria Antonia Almeida Farracha de Castro
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