Projeto de vida

Arte: Habner Matheus

O plano era infalível: bastava ir à banca e, por apenas R$ 9,99, eu poderia escolher minha profissão aos 17 anos –,e essa seria a escolha para a vida inteira.

Revista na mão, era hora de assinalar as profissões desejadas e iniciar a maratona de vestibulares. (Neste momento, o leitor se indaga: “Mas e o Google?” E eu respondo: tudo isso aconteceu nos anos 2000; para fazer uma pesquisa na internet era preciso esperar a meia-noite e, mesmo assim, os sites de busca não eram tão eficientes como são hoje.) Voltamos, então, para a revista, que seria o ponto inicial da minha carreira. Eram muitas opções, então usei as cores para ajudar:

• Vermelho – Não

• Amarelo – Talvez

• Verde – Sim

Com essa organização, basicamente eu tirei as exatas e as biológicas da minha lista com bastante facilidade. Eis que sobraram as humanas. Mas como decidir? Que critério usar? Difícil.

Bom, hora de fazer uma lista de coisas que gosto, para encaixar na profissão (segue a lista de coisas de que eu gostava):

• Música

• Viajar

• Amigos

• Show de rock

• Cinema

• Ler

Parece que essa lista não estava ajudando muito…

Comecei a ver as grades curriculares de cada curso e daí veio a cilada: como assim os cursos de Humanas têm Estatística na grade??? Se eu colocasse vermelho nessas opções, praticamente ficaria sem curso. Ok, parece que eu teria que encarar uma matéria exata em algum momento.

Conforme ia escolhendo e conversando com meus pais, eles apoiavam a decisão, desde que o curso escolhido me desse alguma fonte de renda. Parecia que Filosofia não se encaixava muito bem na lista de cursos aprovados por eles.

Então outro curso chamou minha atenção: Biblioteconomia. Caramba, parecia um sonho ganhar para ler (eu, bem inocente, achando isso). Fui até a faculdade que ofertava o curso, a área de trabalho parecia boa e meus pais, enfim, apoiaram.

Vestibular feito, bora começar o curso.

Plot twist da vida:Fiquei em recuperação em Estatística, mas passei (UFA!).

Não consegui ganhar dinheiro apenas para ler livros, mas amo o que faço .

Artigo: Michelle Lourenceto