Amar em primeira pessoa
- Convidados
- 8 de ago.
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Viver no século XXI e falar sobre amor é, no mínimo, um pouco confuso. Há aqueles que já desistiram, e há quem acredite em amor à primeira vista. Mesmo sendo uma fã nata dos extremos, acredito que toda regra tem sua exceção — sendo o amor uma delas. Devido à complexidade do sentimento, é difícil tipificá-lo, justamente por sermos indivíduos completamente diferentes; sentimos de formas diferentes. Acredito, então, que esse seja o ponto mais crucial no amor: a sua individualidade. O amor é meu, não seu. Nós, por algum motivo, amamos várias pessoas ao longo da vida, e isso é uma escolha nossa, um sentimento nosso; quem é detentor desse sentimento somos nós, não o outro. Sendo assim, é possível amar várias pessoas em diferentes momentos — e de diferentes formas. O que nos faz amar é, com certeza, o outro, mas o amar em si é nosso — o sentimento é todo nosso.
Quando pensamos em amor, é quase instintivo pensar em almas gêmeas ou no famoso “para sempre”. Mas, partindo do pressuposto de que o amor é um sentimento que você detém, você é livre para amar quem quiser, pelo tempo que quiser. E, afastando-se dessa clássica ideia de amor clichê, não podemos esquecer que existem várias formas de amar.
O amor pelos pais é nosso primeiro contato com tal sentimento: é aquele amor irracional, pelo qual faríamos tudo pela pessoa; onde, não importando o tamanho das diferenças, nossos pais têm nossos corações. Já o amor por amigos e irmãos é diferente: é um equilíbrio entre ser o amigo irresponsável e, às vezes, dar bronca como um pai; é um amor leve, em que quase nos vemos refletidos na outra pessoa; rendem-se as melhores histórias e as melhores risadas. E, claro, existe o amor a dois, em uma relação — esse amor que torna alguns até bobos no início, uma sensação de êxtase. E talvez essa seja uma das mais valiosas lições no amor: não idealizar o outro. Às vezes, gostamos do que inventamos do outro, mas não da pessoa em si. Talvez por isso a equação do amor seja tão complicada: sentimentos são complexos, ainda mais os do coração. Tentamos ter um controle absurdo sobre tudo, mas esquecemos que é quase desumano — e muito difícil — controlar o que sentimos. Forma-se, então, um dos mais fundamentais amores: o amor-próprio. Jamais se será feliz a dois se não se é feliz sozinho.

Acredito que nossa melhor companhia deve ser sempre a nossa; os outros são um complemento. Nos aceitar por completo é crucial e, quando isso ocorre, pode-se dizer que encontramos ou atingimos um dos mais importantes amores. Quando estamos bem conosco, realmente confortáveis com a ideia de quem somos, acredito que exalamos isso e, consequentemente, atraímos outros tipos de amor.
Como tudo na vida, opto por ver as coisas por um ângulo mais prático, sem paradigmas ou amarras — e com o amor não é diferente. Acredito que amar é simples: está nas pequenas coisas e nos pequenos gestos. Ao amar alguém, não se deve perder a cabeça por estar apaixonado, mas sim equilibrar a razão; ter alguém com quem se compartilhe a vida no sentido mais amplo da palavra. Alguém que te faça aprender coisas novas e questionar velhas verdades absolutas. Demonstração de amor não é, necessariamente, uma serenata regada a mil pétalas de rosa — embora haja quem goste —, mas, para mim, trata-se mais de pequenos detalhes, de conhecer o outro, de saber ceder e, às vezes, mimar.
É um equilíbrio entre duas pessoas dispostas a compartilhar a vida, movidas pelo sentimento mútuo. Demonstração de amor, de fato, é deixar o outro livre para ser sua melhor versão; é estar junto e, ainda assim, desfrutar da liberdade individual, afinal, pessoas são universos distintos.

Tenho que confessar: como seres humanos, temos uma grande tendência a complicar as coisas. Vivemos uma constante batalha entre razão e emoção, e difícil mesmo é saber equilibrá-las — por isso vivemos errando e tentando aprender com tais erros. As pessoas idealizam o amor, projetam-no no outro, querem borboletas no estômago durante toda uma relação. Já eu acredito que o amor seja simples — não fácil, longe disso —, mas leve. Acredito que deva ser a soma das experiências entre duas pessoas e um futuro cheio de memórias. Amor é compartilhar a playlist, é lembrar da pessoa ao ver o pôr do sol, é ser companhia tanto para o after quanto para o Netflix, é confiança, é querer dividir a vida, é se ver na outra pessoa ou até mesmo aprender com seus defeitos. É aceitar o outro por completo, mesmo sem concordar com tudo, mas buscando entender. O amor não é complicado — nós somos.
E como é bom ter pessoas em nossa vida que possamos olhar e pensar: “eu realmente amo você”. Seja um(a) amigo(a), um(a) irmão(ã), um(a) namorado(a)... É gratificante ser rodeado por pessoas que nos proporcionam esse sentimento: o amor. A vida se torna mais calorosa, fácil, cheia de significado. E, mesmo com toda a complexidade do nosso ser, por um ângulo mais lógico, como é lindo poder amar os outros. É como um presente: somos livres para amar quem quisermos e da forma que quisermos. E mais gratificante ainda é encontrar alguém que partilhe do mesmo sentimento.
Artigo: Gloria Maria Almeida Farracha de Castro
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