Ney Matogrosso: Homem com H
- Convidados

- 27 de jun.
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Estamos no mês de junho, mês do orgulho LGBTQIAPN+, e nada mais justo do que celebrar alguém como Ney Matogrosso. Mais do que um cantor, Ney é um símbolo de coragem, liberdade e originalidade na cultura brasileira. Ao longo de mais de cinco décadas de carreira, ele desafiou padrões, enfrentou preconceitos e deixou sua marca não apenas pela voz inconfundível e performances arrebatadoras, mas também pela maneira como sempre viveu sua verdade.
Nascido Ney de Souza Pereira em 1º de agosto de 1941, na pequena Bela Vista, no Mato Grosso do Sul, Ney teve uma infância marcada pela rigidez de um pai militar e pela constante sensação de deslocamento. Ainda jovem, buscou no Rio de Janeiro o espaço para ser quem era. Foi lá que descobriu o teatro, a música e a liberdade de existir fora dos padrões. Em 1973, alcançou fama nacional como vocalista da banda Secos & Molhados, que virou um fenômeno não apenas pelo som inovador, mas também pelo visual ousado e pelas letras desafiadoras. Ney, com sua maquiagem carregada, figurinos provocantes e gestos felinos, imediatamente se destacou e afrontou a moral conservadora da época, em plena ditadura militar.

Após sair da banda, Ney seguiu carreira solo e lançou sucessos que atravessaram gerações. Um de seus momentos mais marcantes veio em 1981, quando gravou a música “Homem com H”, que se tornaria um clássico de seu repertório e verdadeiro hino de liberdade e subversão. Na canção, Ney ironiza e desconstrói o conceito do “homem padrão”, colocando em xeque os estereótipos de masculinidade. Em cena, suas performances dessa música eram um espetáculo à parte, surgindo com roupas coladas ao corpo, dançando de forma sensual e desafiadora, levando o público ao delírio e, ao mesmo tempo, provocando reflexões sobre os papéis de gênero.
Ao longo da carreira, Ney nunca se escondeu. Embora discreto em sua vida pessoal, sempre fez questão de dizer que não precisava carregar bandeiras, porque ele próprio era a bandeira. Em entrevistas, já afirmou que viver livremente, amar quem quisesse e subir aos palcos da maneira que acreditava ser verdadeira era, por si só, um ato político. Ícone para a comunidade LGBTQIAPN+, Ney atravessou os anos sobrevivendo às perseguições, às perdas de amigos queridos na epidemia de AIDS e às imposições sociais, sempre firme e com a cabeça erguida.

Hoje, aos 83 anos, Ney Matogrosso continua nos palcos, em estúdios e agora também nas telas de cinema. Em 2025, ganhou uma cinebiografia chamada Homem com H, título mais que apropriado para resumir a trajetória desse artista que nunca aceitou ser definido pelas convenções. O filme conta desde sua infância no interior, sua relação conturbada com o pai, o sucesso meteórico nos Secos & Molhados e as paixões que marcaram sua vida, entre elas o cantor Cazuza. A produção é estrelada por Jesuíta Barbosa e recebeu elogios pela forma sensível e intensa com que retrata Ney.
Neste mês do orgulho, lembrar de Ney Matogrosso é celebrar a história de quem abriu caminhos para que muitos outros pudessem existir sem medo. Sua voz segue viva, seu corpo em movimento ainda desafia normas e sua presença representa o direito de cada um ser exatamente quem é. Ney é, e sempre será, um homem com H maiúsculo, de História, de Humanidade e de Honra.
Artigo: Habner Matheus







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