Quando somos crianças observámos o tempo passar devagar e preguiçoso como uma brisa de fim de tarde, que sopra no rosto trazendo a certeza de algo que existe e está lá, mas que não podemos ver ou tocar. Contamos as horas, minutos e segundos e sabemos exatamente aonde estamos e quem somos. Nossos anos são vividos com os anseios e desejos de uma juventude plena e feliz, quase que eterna.
A vida adulta nos traz as amarguras dos amores perdidos, dos afetos não vividos e a despedida do tempo, aquele velho amigo que um dia julgamos que nos pertenceu. Chega a hora de se despedir da pureza, da inocência e começamos a acreditar que não há mais muito a se fazer com o pouco período que nos resta.
A meia idade chega e mostra nossas vitórias, os amigos conquistados, a família unida e entendemos que não há caminhos trilhados ou direções que devemos seguir. Descobrimos que não existe um fim, pois tudo se trata de um eterno recomeço e voltamos a acreditar que temos um mundo a nossa espera. Os velhos ponteiros do relógio que um dia julgamos ter o poder medir o tempo, passam a não ter mais sentido e descobrimos que sim ainda nos resta muito a fazer e a viver. A ilusão de administrar o que não nos pertenceu dá lugar ao acaso e seguimos nossas vidas sem a necessidade de nos localizar no tempo e espaço, entendemos que a teoria de Einstein que ponderava, que o nosso futuro é o passado de alguém, assim como o nosso passado foi o futuro de outrem.
Quanto a velhice podemos observa-la com uma certa vantagem ilusória, pois ainda não é tempo de vive-la, mas quando ela chegar num futuro próximo ou distante, podemos recepciona-la com alegria, pois ela é um presente, uma dadiva da nossa existência. A experiência nos permite degustar os sabores, dissabores e delicias da vida. Sim, estaremos vivos e não teremos mais a mesma pele viçosa, os cabelos brilhantes, e a disposição da juventude, no entanto, teremos muitas histórias para contar, segredos para guardar e nossos olhos ainda irão mostrando a nossa verdadeira essência.
E assim aprendemos que basta viver o presente quer ele seja pretérito perfeito, imperfeito ou mais que perfeito e que o dito agora é o nosso presente diário de uma existência.
Daniela Amaral
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