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Foto do escritorDaniela Amaral

Setembro

Atualizado: 18 de out. de 2023



Setembro está acabando e com ele a promessa de uma mão amiga sendo estendida. É comum que cada mês tenha a sua cor e o tom escolhido do para o período em questão é o amarelo, que representa a alegria e as cores da primavera.


A cor traz a afirmação de que não se pode perder a esperança, pois o sol sempre há de brilhar. Nas redes sociais, as pessoas postam mensagens de apoio dizendo: “Precisa conversar? Estou aqui!”. E junto com a hipocrisia da ajuda oferecida enfeitavam a foto do perfil com um lacinho amarelo.


Quem necessita daquela ajuda não se ilude, pois bem sabe que muitas vezes escrito nas entrelinhas, em letras minúsculas, vem o seguinte dizer: Somente em setembro, visto que outubro já é rosa, assim como novembro é azul, dezembro é Natal e em janeiro estou de férias.

O que os amigos virtuais muitas vezes ignoram é que todos os dias e a todo instante há pessoas travando suas batalhas contra uma doença silenciosa. A depressão gera uma guerra interior que insiste em devastar tudo o que existe dentro de si, corroendo a sua essência, como um monstro faminto por desespero e vazio. Para essas pessoas resta apenas o caos, a dor e o silêncio, não importa que setembro seja amarelo. Por vergonha, medo da rejeição e do julgamento alheio, vestem seus personagens com máscaras coloridas e fingem ser pessoas alegres e sorridentes.


Contudo, em seus combates, lutam em silêncio, restando-lhes apenas a agonia de viver só, em um mundo sem cores. Fugindo das palavras que os rotulam, escondem-se em realidades falsas e se misturam à massa. Alguns ocultos no anonimato, guardam em silêncio a esperança da cura ou planejam o momento fatal, em que, em total desespero e na busca de uma solução, findam a vida num delírio de libertação. Encerrar a dor, o nada é algo tentador.

Para muitos, o fim chega em setembro. Mas também pode ser que venha em fevereiro, talvez maio ou até mesmo em agosto ou junho. O mês derradeiro pode ser amarelo, roxo ou azul, tanto faz.


E assim, silenciosamente, a depressão, essa palavra cada vez mais conhecida e mencionada, torna-se não apenas o mal do século, mas também o motivo do vazio infinito de muitas almas. Então, sempre que possível, estenda a mão, seja um ombro amigo. Não julgue. Não tente apontar os erros e as possíveis soluções. Apenas diga: “Sim, eu estou aqui e sempre estarei”. E ouça não só com os ouvidos, mas com o coração.


Pois, se o mundo é colorido, por que vê-lo em preto e branco.


Daniela Amaral


Pinhais, 26 de setembro de 2023

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