Performance x Humanidade

Arte: Habner Matheus

O esporte tem uma crueldade silenciosa: a de não parar. Enquanto treinos e jogos são realizados, entrevistas são dadas e familiares se despedem sem a noção de que aquele foi o último abraço, o último adeus.

A engrenagem segue rodando, indiferente à vida íntima de quem a movimenta, mesmo porque, afinal, o show não pode (e não deve) parar.

Nesta semana, o treinador multicampeão da Seleção Brasileira Masculina de Voleibol, Bernardinho, recebeu, horas antes de uma partida decisiva da Copa do Mundo, a triste notícia da passagem de sua mãe. Bernardinho foi o exemplo máximo dessa cultural insana de performance.

Ídolo e líder máximo de uma geração, que construiu a sua imagem na intensidade, na cobrança e no detalhe, se viu atravessado por uma das únicas experiências inevitáveis da vida humana: o luto.

Possivelmente, é justamente aí que reside a verdadeira lição do esporte. Ele nos ensina sobre superação, resiliência e entrega. Mas, também, sobre humanidade.

Ao lembrarmos hoje de Bernardo como filho (como Bernardo), e não como campeão, somos convidados a olhar para além das estatísticas e dos troféus. O esporte não é feito apenas de vitórias; ele é feito de gente. Gente de carne, osso, suor – e porque não falar também de lágrimas?

Que a performance, ao menos por um instante, aprenda a respeitar o silêncio do luto. E que nós, torcedores e observadores, saibamos oferecer empatia antes de exigir resultados.

Artigo: Paulo Guilherme Araujo dos Santos Giffhorn