FA segunda pessoa do singular, o interlocutor para o qual dirijo a palavra, ou, até mesmo, o Outro, entendido por Lacan, em uma de suas definições, como aquele que possui o papel de validar a autoimagem, ou, ao abordar o “Grande Outro”, entendido, ao nível simbólico, como a noção de que a identidade e o sentido de si mesmo são construídos através da relação com os outros. Não se pretende aqui trazer uma discussão conceitual ou acadêmica acerca da matéria, mas somente um tom de provocação à ideia quando pensada na sociedade virtual em sua “booleanização” do interlocutor.
Caso tragamos à narrativa a perspectiva de nossas relações como trejeitos pelos quais entendemos e interpretamos, sempre em reflexos aos próximos como forma de nos entendermos e comunicarmos, como devemos chamar aquilo que não cabe nos “1”s e “0”s do dia-a-dia das relações virtuais.
Por outro lado, o discurso difundido já demoniza o novo inimigo da década. O algoritmo possui o condão de definir quais comportamentos serão mais difundidos entre nós, estimulando em progressão geométrica, por meio de interrelações de avaliações – como likes ou reportagens –, o que queremos no próximo segundo.
Nessa esteira, o professor Pierre Lévy constrói o conceito de comunicação estigmática como aquela que – com a licença poética – alimenta pouco a pouco o “Grande Outro” que nos autoidentifica enquanto sociedade e, em última análise, nós mesmos.
Neste momento, por mais contraditório que possa soar, aproveitamos o tempo em meio à rotina para escrever este texto como um réquiem àquilo que transborda as telas; mas também como uma ode ao diálogo capaz de nos tornar mais “humanos”.
Em detida análise diante do espaço a que cabe este hiato, a empatia - entendida como a capacidade de nos identificarmos com outra pessoa– parece ser o ouro da década frente à escassez. Como nos ensina Leandro Roque de Oliveira em Principia, o abraço e o sorriso ainda são as únicas línguas que todos nós entendemos.
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