Prazer, meu nome é Solidão. Não se assuste, não sou má pessoa, um pouco calada, talvez, ligeiramente tímida, pois multidões me deixam assustada, por isso prefiro viver nos bastidores e, por esse motivo, muitas vezes sou julgada como antipática e cruel.
No entanto, apesar do meu estigma e do meu nome, posso ser uma boa amiga. Lembro que estava com você no dia em que conheceu os seus pais, estarei com você no dia em que se despedirá deles e, com certeza, permanecerei ao seu lado no momento da sua partida.
Falando assim, espero que você não me confunda com a morte, definitivamente não sou ela, somos muito diferentes, ela é dramática, insiste em impor um fim a tudo e possui um humor ácido apuradíssimo. Quanto a mim, apenas prefiro observar o mundo, as formas que nele existem, a correria do dia a dia, a construção das relações humanas e a maneira como as pessoas criam suas ligações invisíveis uns com os outros e como as destroem tão facilmente.
Deixa-me te dizer que você sempre vai me ter, pois sempre volta para mim em vários momentos da sua vida. Então, sempre conte com a sua boa e velha conhecida Solidão.
Não me tema como quem teme ao fim, sou uma boa companhia e, muitas vezes, até uma excelente conselheira. Sei de todos os seus segredos e te garanto que não os revelo a ninguém, sei das suas dores, dos seus amores, das suas angústias e das suas alegrias. Também sei quando não me quer por perto, por isso as vezes me afasto e não fico magoada, afinal eu sou inevitável.
Calma, não se aflija pela minha fala, não sou o vilão daquela série de filmes de super-heróis que, com um estalar de dedos, muda o destino de todos; eu sou apenas uma parte da sua vida, sou a sua paz e, às vezes, a sua dor, o seu temor da velhice e o consolo dos momentos de separação.
Portanto, agora que nos conhecemos melhor, vou te contar o segredo da nossa união: eu sou você e você sou eu, sou a sua voz que cala no pensamento e os teus olhos são as janelas pelas quais eu observo mundo.
Há quem me chame de solitude, assim como há quem me denomina de tristeza, mas te garanto que posso ser reencontro, pois viver nesse planeta que possui, aproximadamente, 8 bilhões de habitantes pode ser muito solitário ou simplesmente necessário.
Texto inspirado do livro O Dilema do Porco Espinho de Leandro Karnal.
Revisão textual: Jhenyffer Nareski Correia - @j.nareski
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