A Praça do Seu Francisco, no bairro Juvevê, acaba de ganhar mais um forte atrativo: uma biblioteca comunitária, presente do projeto Amigos Solidários do escritório de advocacia Farracha de Castro, localizado a duas quadras da praça. A nova biblioteca da cidade ganhou livros suficientes para preencher duas prateleiras e, no dia a dia, é possível encontrar pessoas lendo no jardim que se transformou em uma paixão da comunidade.
Nas estantes, livros de Direito – como era de se esperar, doação de integrantes do escritório de advogados –, romances, biografias, livros para crianças e adolescentes, livros sobre biomas como o Pantanal e o das Araucárias e exemplares de autores variados, entre eles, As mentiras que os homens contam, de Luiz Fernando Veríssimo.
Por ser um espaço de acesso livre, a Biblioteca Comunitária dos Amigos Solidários está sempre aberta. Basta pegar um livro que pode ser lido ali mesmo, levado para casa e depois devolvido ou doado a outro leitor. Não há controle sobre quem leva e quem traz, mas a resposta da comunidade está sendo muito positiva. Aqui e acolá tem alguém trazendo livro e elogiando a iniciativa.
É o caso da pedagoga paraense Telma Santana que no ano passado lançou seu primeiro livro, Minha vida, meus valores, em que conta sua trajetória pela educação ambiental, área em que fez pós graduação. Ao passar pela praça a caminho de casa, percebeu imediatamente a nova biblioteca e já foi avisando que na próxima semana também vai trazer livros para colocar à disposição da comunidade. “É uma iniciativa maravilhosa, tanto a biblioteca quanto a criação e manutenção de um espaço bonito e prazeroso como esse”, afirmou.
Há dois anos em Curitiba, Telma mora no bairro Santa Cândida e esta foi a primeira vez que passou pela pracinha do Seu Francisco e parou para admirar e se prontificar a dar oficinas de educação ambiental para as crianças que, especialmente nos fins de semana, lotam o espaço.
Também foi ao passar pela praça que a bibliotecária Daniela Amaral teve a ideia de instalar ali uma biblioteca comunitária. Responsável pela área de gestão da informação na Farracha de Castro Advogados – o que inclui edição de livros e materiais diversos – e pelo blog Livre Instância, Daniela conta que o escritório integra o Pacto Global da ONU que prevê a adoção de ações e medidas voltadas ao desenvolvimento sócio ambiental e proteção do planeta.
A partir deste prisma, o escritório criou o projeto Amigos Solidário. A biblioteca, explica Daniela, é uma dessas ações. “Quando vi a Praça, tive certeza de que tinha encontrado o lugar certo e graças ao apoio dos diretores e de todo o pessoal do escritório foi possível contar com o armário, a obra de instalação e vários livros doados por eles”.
O próximo passo, afirma Daniela, deve ser um projeto voltado à contação de histórias, o que será mais uma atividade na pracinha, como a ela se referem as crianças. Atividade, aliás, é o que não falta por ali. Mutirões de limpeza e plantio, varrição, brincadeiras com as crianças, aulas e apresentações de música – sempre tem alguém fazendo alguma coisa em favor de todos.
Troncos que viraram bancos, tábuas transformadas em mesas, balanços pendurados nas árvores, escorrega e cavalinhos doados por uma escola, areia, flores, árvores frutíferas, temperos, chão pintado para pular amarelinha e até uma pequena trilha em meio a arbustos garantem bons momentos de lazer, diversão e encontros.
Localizada no coração do Juvevê, na esquina das ruas Marechal Mallet e Manoel Eufrásio, a pracinha surgiu do trabalho incansável e solitário de um morador da região, Francisco Toda, falecido há quatro anos.
Francisco, o formidável – como a ele se referiu outro morador do entorno, o escritor Joaquim Cardoso, também falecido – mudou-se no início dos anos 2000 para um prédio vizinho do terreno que, até então, abrigava uma casa que era sede da UPES. E durante quase vinte anos, lá estava ele, todos os dias, de manhãzinha e no fim da tarde, capinando, varrendo e plantando.
Em 2009, quando os estudantes acamparam no local para marcar posição em defesa da área, num processo de disputa jurídica com uma construtora, seu Francisco continuou por ali, todos os dias, em meio à juventude, replantando o que havia sido destruído pelos tratores e refazendo o espaço que a comunidade abraçou. O processo da disputa da área ainda corre na Justiça. A UPES, que no ano passado obteve o direito de uso, é parceira da comunidade no cuidado com a pracinha.
Em fevereiro do ano passado, a praça foi novamente destruída, desta vez com escavadeira que
arrancou árvores, arbustos e o que estava pelo caminho. Rapidamente, a UPES e moradores do entorno se mobilizaram, acionando a Justiça e mais uma vez reconstruindo a praça deixada por Seu Francisco e que hoje leva seu nome numa singela e merecida homenagem a quem plantou tantas sementes incluindo as de solidariedade, respeito e amor pela natureza e pelo próximo.
Maria do Carmo Batiston - Jornalista
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